Plano Real, 30 anos, uma conquista nacional

Neste 2024, o Brasil celebra os 30 anos da criação do Plano Real, o programa técnico-político que tirou o país da inflação crônica e da hiperinflação recorrente. Mas não se deve perceber esse aniversário como a lembrança de um acontecimento encapsulado no passado. Muito pelo contrário, pois estamos há três décadas usufruindo de avanços oriundos da implementação dessa ousada estratégia de rompimento de um flagelo nacional.

A inflação alta e a hiperinflação fizeram parte do cotidiano de gerações e gerações de brasileiros. Era algo, pode-se dizer, estrutural na vida política e econômica do país e que penalizava os pobres, num perverso círculo vicioso que fulminava o poder de compra de ampla maioria da população. O “inflacionismo” era um agente de injustiça social e vetor de empobrecimento do país.

A inflação alta e a hiperinflação fizeram parte do cotidiano de gerações e gerações de brasileiros. Era algo, pode-se dizer, estrutural na vida política e econômica do país e que penalizava os pobres, num perverso círculo vicioso que fulminava o poder de compra de ampla maioria da população. O “inflacionismo” era um agente de injustiça social e vetor de empobrecimento do país.

Evidente que restam tarefas que são inadiáveis, como o equilíbrio fiscal, sempre postergado; a conclusão da reforma tributária; a reforma do RH do setor público brasileiro e levar qualidade para a educação básica no país, entre outros desafios.

Testemunhei e participei das transformações e desafios da implementação do Plano Real num lugar muito especial: o Executivo municipal.

Era prefeito de Vitória entre 1993 e 1996 e foram imensas adaptações que tivemos de promover naquele momento, não obstante os aprendizados auferidos tenham sido de crucial valia para a minha caminhada de gestor público e também na atividade privada.

Transição

No período de transição da moeda, com o uso da URV (Unidade Real de Valor), o trabalho foi hercúleo, notadamente na conversão da folha de pagamento. Os sindicatos reivindicavam a conversão pelo pico dos salários, enquanto a realidade prescrevia a conversão pela média.

Nesse processo, tive de enfrentar uma greve de servidores. Aqui também a saída exigiu diálogo e convencimento, a partir dos fatos e da transparência dos números.

A outra interrogação que se abria era como se comportariam as receitas governamentais com a estabilidade da moeda, já que essa realidade abolia uma fonte que era comum aos órgãos públicos os rendimentos na jogatina da ciranda financeira.

O caminho foi feito passo a passo, com planejamento e organização, o que acabou produzindo um ganha-ganha, com satisfação à sociedade e ao funcionalismo. Medida disso foi que terminamos como uma das administrações municipais mais bem avaliadas no país.

A experiência e os conhecimentos acumulados num momento tão rico e decisivo para o país foram essenciais para os próximos passos da minha vida pública pública.

Exemplo de aplicação desse treinamento foi a travessia exitosa que liderei de uma das piores fases da história capixaba, a partir de 2003. Sob a sombra do crime organizado, o governo estava destroçado, sem condições sequer de honrar com a folha de pagamento dos servidores, que tinham três salários em atraso quando assumi.

Agora em 2024, ano de eleições municipais, a história de superações e conquistas viabilizadas pelo Plano Real tem muito a inspirar candidatos.

Dentre várias questões a se notar, estão os fatos de que controle de inflação se tornou um valor para a nossa população, que estabilidade monetária é fator de indução de prosperidade, que equilíbrio financeiro-orçamentário é uma conquista republicana de respeito e incremento da cidadania, e que a boa política faz parceria luminosa com a boa técnica.

Mas também é preciso entender que os ganhos possibilitados com o Plano Real, como a estabilidade monetária e o controle da inflação, não são conquistas pétreas, apesar de seu valor inestimável. São medidas que precisam ser sustentadas dia a dia pela ação política responsável, imunizada de velhas pragas, como o populismo fiscal, por exemplo.

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