Queimadas custam ao menos R$ 2 bi em SP, e seca deve aumentar prejuízos no Brasil
|Perdas bilionárias podem ser só o início das consequências da seca e do avanço das queimadas no Brasil. A intensificação da crise climática nas últimas semanas pressiona serviços básicos, como fornecimento de energia e água, e reforça alertas para os possíveis impactos econômicos dos eventos extremos no longo prazo, segundo especialistas consultados pela reportagem.
No estado de São Paulo, os prejuízos da agropecuária com os incêndios se aproximavam de R$ 2 bilhões, conforme balanço atualizado na quinta (12) pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Há impactos nas atividades de gado de corte, leite, cana-de-açúcar, frutas, mel e derivados, celulose e extração de látex. O governo estadual disse que viabilizou R$ 110 milhões para ações voltadas a produtores afetados.
Estimar as perdas com a crise ainda em andamento é uma tarefa difícil, dizem analistas, já que os efeitos não são totalmente conhecidos. Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, o fato é que o contexto atual reforça o alerta para mudanças importantes na economia no longo prazo.
“O mundo precisa de ações mais concretas para evitar cenários catastróficos nos próximos anos. No caso brasileiro, a questão climática afetando a agricultura é a maior preocupação [econômica]. Vai demandar projetos de irrigação e seguro. E seguro rural é uma coisa relativamente mal desenvolvida no Brasil”, afirma.
“O mundo precisa de ações mais concretas para evitar cenários catastróficos nos próximos anos. No caso brasileiro, a questão climática afetando a agricultura é a maior preocupação [econômica]. Vai demandar projetos de irrigação e seguro. E seguro rural é uma coisa relativamente mal desenvolvida no Brasil”, afirma.
O economista diz que, devido ao período de entressafra, culturas como soja e milho, predominantes na agricultura brasileira, não sofreram impactos relevantes das queimadas até o momento. A grande preocupação é se a escassez hídrica se prolongar nos próximos meses, prejudicando o plantio de verão desses e outros produtos.
Para concluir a safra de grãos de 2024, falta basicamente ao Brasil colher culturas de inverno, como trigo, aveia e cevada, apontou Carlos Barradas, gerente do LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola), em nota divulgada na quinta pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O IBGE prevê queda de 6% para a produção deste ano, em cenário associado em grande parte a problemas climáticos como falta de chuva em meses anteriores da temporada, além das enchentes no Rio Grande do Sul.
O IBGE prevê queda de 6% para a produção deste ano, em cenário associado em grande parte a problemas climáticos como falta de chuva em meses anteriores da temporada, além das enchentes no Rio Grande do Sul.
“Este mês estamos iniciando o plantio da safra de verão e está faltando chuva, que tem de chegar até meados de outubro para o produtor poder plantar e ter uma boa janela de produção”, disse Barradas. Em balanço atualizado na sexta (13), a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) passou a estimar em cerca de R$ 1,2 bilhão o prejuízo das queimadas em canaviais de São Paulo.
O relatório da consultoria LCA afirmou que a seca e os incêndios recentes “ampliam riscos de alta para a inflação e de baixa para o PIB”, que mede o nível de atividade econômica no país. A análise aponta que o contexto atual já levou a uma mudança nas bandeiras tarifárias de energia elétrica e começa a pressionar os preços de alimentos.
Em setembro, a bandeira vermelha patamar 1 entrou em operação no país, o que significa um acréscimo na conta de luz de R$ 4,463 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. Olhando mais à frente, mesmo que melhorias de infraestrutura de geração e distribuição de eletricidade e expansão de fontes alternativas possam ajudar, elas demandariam bastante tempo para se mostrarem efetivas na mitigação dos efeitos de períodos de escassez de chuvas, afirma a LCA.
“E é inegável que, se a situação climática continuar a piorar, os impactos sobre a economia, a médio e longo prazo, tenderão a ser cada vez mais adversos -principalmente por prejudicar o fornecimento de energia e a produtividade agropecuária”, diz a consultoria.
Glaucio Toyama, presidente da comissão de seguro rural da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), afirma que as seguradoras ainda calculam os prejuízos da crise atual. A dimensão ainda não é conhecida porque os avisos de sinistros ainda não pararam de chegar às empresas. De acordo com Toyama, uma das questões que preocupam é a possível perda de fertilidade do solo em áreas atingidas por incêndios. “Os prejuízos vão continuar acontecendo. Controlar o fogo não é simples”, diz.
Fonte: JC