Nas eleições para prefeito, a força das máquinas administrativas

Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, em apenas 51 — incluindo 15 capitais — os eleitores tiveram de voltar às urnas, neste domingo, para definir a pleito para prefeito. Esses colégios eleitorais somam quase 40 milhões de pessoas aptas a votar, ou pouco mais de 25% do eleitorado brasileiro de 156 milhões de eleitores e eleitoras. Assim que as urnas foram fechadas, em um dia tranquilo na maioria das cidades, os resultados confirmaram o que o primeiro turno já havia sinalizado: o peso das máquinas municipais foram determinantes.

Entre os mais de três mil prefeitos que tentaram a reeleição no primeiro turno, 80% obtiveram êxito. Nas capitais, 10 prefeitos ganharam mais quatro anos de mandato, em 6 de outubro, enquanto quatro não chegaram sequer ao segundo turno. Neste domingo, foi a vez das 15 capitais que adiaram a decisão. Em seis, a taxa de sucesso dos atuais incumbentes que tentavam permanecer no cargo até 2028 foi de 100%. Todos se reelegeram. Nas outras nove capitais, a vitória ficou, na maioria delas, com candidatos apoiados pelo atual prefeito ou pelo governador do estado.

O peso das máquinas (municipais e estaduais) foi determinante. Além dos reeleitos, seis candidatos venceram a disputa com apoio político — e investimentos públicos — do atual prefeito ou do governador, sinalizando a opção do eleitorado pelo continuísmo administrativo. Mesmo assim, o desfecho do segundo turno das eleições foi acompanhado com ansiedade nas oito capitais em que as pesquisas de intenção de voto apontavam empate técnico.

Ao contrário de Boulos, que praticamente não teve oportunidade de desfilar com Lula pela cidade, Nunes contou com o apoio ostensivo do governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e com apoio discreto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a flertar com a candidatura do influenciador e encrenqueiro Pablo Marçal (PRTB).

Na festa da vitória, Nunes fez questão de apontar o governador como o “líder maior, sem o qual não teríamos essa vitória”.

O MDB também bateu a esquerda em Porto Alegre. Prefeito que administrou a capital gaúcha nas enchentes históricas de abril, Sebastião Melo obteve 61% dos votos contra a petista Maria do Rosário, nome que não conseguiu costurar uma rede de aliados à esquerda para enfrentar o incumbente.

O PL, por sua vez, derrotou a esquerda em Aracaju e Cuiabá, perdeu para o PT em Fortaleza, e para candidatos de centro-direita em Belém, Curitiba, Goiânia e Palmas. Mas, ao contrário do que esperava a cúpula do maior partido de oposição do país, o PL de Bolsonaro ficou bem longe da meta de eleger 1,5 mil prefeitos em todo o país. No primeiro turno, foram pouco mais de 500. Neste domingo, nas capitais, apenas Emília Corrêa (Aracaju) e Abílio Brunini (Cuiabá) conseguiram angariar a simpatia do eleitorado com propostas mais radicais da agenda bolsonarista.

Os principais partidos do Centrão — PSD, União, MDB, PP, Republicanos e Podemos — fizeram 12 prefeituras: São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Belém, Natal, Palmas, Porto Velho, João Pessoa e Campo Grande. Integrantes da base parlamentar do governo Lula — apesar de abrigarem, também, alas ligadas à oposição bolsonarista —, essas agremiações saem fortalecidas da disputa municipal, o que deve provocar reflexos na correlação de forças no Congresso e nas articulações para as eleições presidenciais de 2026.

Para o PT, em torno do qual sempre orbitaram as legendas menores de esquerda, os resultados quase confirmaram as piores expectativas. A legenda, que não havia emplacado ninguém nas capitais em 2020, tinha esperança de uma performance melhor dos quatro candidatos que seguiram na disputa pelas capitais. Só elegeu um, Evandro Leitão, no confronto mais acirrado deste segundo turno. Vitória que contou com o fator polarização, pois, do outro lado, estava o bolsonarista André Fernandes (PL). Mas para a esquerda, em geral, o saldo foi ruim: o campo perdeu os comandos de Belém e Aracaju. Ganhou Fortaleza e manteve Recife, com João Campos, do PSB, reeleito em primeiro turno com uma das maiores votações do país.

Outra tendência que as eleições deste domingo confirmaram foi o pouco peso dos dois principais líderes políticos do país, responsáveis pela mais profunda divisão da sociedade na história recente. Nem Lula nem Bolsonaro mostraram força para eleger seus preferidos.

Derrotas

Bolsonaristas “raiz” foram derrotados em Goiânia, Belo Horizonte e Curitiba para candidatos ligados às máquinas municipais e estaduais. Lula, por sua vez, chegou a exibir, na véspera da eleição, vídeos em suas redes sociais emprestando apoio a 12 candidatos de esquerda.

A polarização que marcou a política brasileira nos últimos anos só serviu de combustível eleitoral em duas capitais: Fortaleza e Cuiabá. Em ambas, os candidatos fizeram questão de vincular suas candidaturas a Lula ou a Bolsonaro, mimetizando o embate nacional entre direita e esquerda.

No maior colégio eleitoral do Nordeste, região que deu a Lula sua maior votação em 2022, a disputa pela capital cearense foi dramática, definida nos últimos votos a favor do petista Evandro Leitão. A diferença foi de apenas 10.838 votos em relação ao bolsonarista André Fernandes (50,4% a 49,6%).

Assim, o PT retoma, depois de oito anos, a capital do estado que já é governado pelo partido há quase uma década. É, também, mais uma derrota para o ex-ministro Ciro Gomes que, rompido com o irmão e senador Cid, apoiou — com uma ala dissidente do PDT — o candidato bolsonarista.

O inverso aconteceu na capital mato-grossense, fortemente influenciada pelo agronegócio, onde o bolsonarismo viu seu candidato, Abílio Brunini, ser ameaçado no segundo turno por um petista moderado, Lúdio Cabral. Abertas as urnas, a vitória de Brunini foi maior do que as pesquisas previram: obteve 54% dos votos, contra 46% de Lúdio.

Fonte: Correio Brasiliense

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