Marinha ofereceu tanques para trama golpista, mas Exército e FAB recusaram, diz Polícia Federal
|A Polícia Federal identificou o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, como o único chefe das Forças Armadas que teria se colocado à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um suposto plano de golpe de Estado. A informação consta no relatório que levou ao indiciamento de Bolsonaro, Garnier e outras 35 pessoas.
“As referidas mensagens vão ao encontro dos elementos de prova obtidos, confirmando que o então Comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier, anuiu com o Golpe de Estado, colocando suas tropas à disposição do Presidente”, diz o documento que teve o sigilo reiterado pelo ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Conversas reveladas
A investigação teve acesso a mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em um dos diálogos, um contato identificado como “Riva” descreve Garnier como um “patriota” com tanques prontos para apoio.
“O Alte. Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos”, disse Riva.
O interlocutor sugere que Bolsonaro deveria ter “rompido” com a Marinha, destacando que Exército e Aeronáutica “iriam atrás”. No entanto, a PF afirma que os comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Baptista Júnior, foram contrários à ruptura institucional.
“Os elementos de prova obtidos, tais como mensagens de texto e depoimentos dos então Comandantes da Aeronáutica e do Exército prestados à Polícia Federal, evidenciam que o então Comandante da Marinha do Brasil, almirante Almir Garnier, foi o único dentre os três a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito”, diz o relatório.
Nota da Marinha do Brasil
Em nota divulgada nesta quarta-feira, 27 de novembro, a Marinha do Brasil negou qualquer envolvimento em ações para abolir o Estado Democrático de Direito, afirmando que não houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados nesse sentido.
“Em relação às matérias veiculadas na mídia que mencionam ‘tanques na rua prontos para o golpe’, a Marinha do Brasil (MB) afiança que em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para a execução de ações que tentassem abolir o Estado Democrático de Direito.
Sublinha-se que a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi e nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais.
A Marinha do Brasil, instituição nacional, permanente e regular, assegura que seus atos são pautados pela rigorosa observância da legislação, valores éticos e transparência. Ademais, a MB encontra-se à disposição dos órgãos competentes para prestar as informações que se fizerem necessárias para o inteiro esclarecimento dos fatos, reiterando o compromisso com a verdade e com a justiça”.
Pressão aos demais comandos
De acordo com o relatório, o apoio de Garnier teria sido usado para tentar influenciar os comandantes do Exército e da Aeronáutica a aderirem ao suposto golpe.
“Outrossim, a adesão de Amir Garnier, conforme as trocas de mensagens entre investigados e adeptos do golpe de Estado, descritas ao longo do relatório, serviu para Organização Criminosa pressionar ainda mais o Alto Comando do Exército a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito”, afirmou a PF.