80% dos óbitos de câncer de pulmão são causados pelo tabagismo

O tabagismo é um dos principais desafios de saúde pública em todo o mundo, e no Brasil não é diferente. Responsável por uma parcela alarmante dos casos de câncer de pulmão, essa condição continua a cobrar um preço alto em termos de vidas perdidas e recursos financeiros. Um estudo apresentado, nesta quinta-feira (16/5), no 48° encontro do Group for Cancer Epidemiology and Registration in Latin Language Countries Annual Meeting, conduzido pela Fundação do Câncer, trouxe à tona a gravidade da situação atual e as projeções preocupantes para o futuro do câncer de pulmão no país.

Dados revelam que o tabagismo é responsável por cerca de 80% dos óbitos por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. Além das vidas perdidas, o custo econômico é de aproximadamente R$ 9 bilhões de gastos anuais em tratamento. Surpreendentemente, os impostos pagos pela indústria do tabaco cobrem apenas uma fração mínima de 10% desses custos, valor que é responsabilidade fiscal das empresas do setor.

As projeções para o futuro do câncer de pulmão não são boas, com um aumento previsto de mais de 65% na incidência da doença e 74% na mortalidade até 2040, em comparação com 2022, caso o padrão de comportamento em relação ao tabagismo não seja alterado. Contudo, o diagnóstico precoce tem sido a solução para melhorar as taxas de sobrevida e os resultados do tratamento. Infelizmente, muitos pacientes são diagnosticados em estágios avançados da doença, o que reduz drasticamente as chances de recuperação.

“O câncer de pulmão é uma das principais preocupações em saúde pública em todo o mundo. A detecção precoce dessa doença é crucial na gestão eficaz do seu tratamento, já que aumenta as chances de um tratamento bem sucedido. Entretanto, esse câncer, na maioria das vezes, não apresenta sintoma em sua fase inicial”, comenta Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer e cirurgião oncológico. O especialista enfatiza a urgência de medidas preventivas, políticas de saúde, investimentos adicionais em prevenção, detecção precoce e tratamento para reduzir o ônus humano e econômico da doença.

Apesar da redução no número de fumantes ao longo dos anos, atualmente cerca de 12% da população adulta brasileira utiliza algum produto derivado do tabaco. Outro aspecto revelado no estudo é que os pacientes chegam ao tratamento em estágios avançados da doença, tanto entre os homens (63,1%) quanto entre as mulheres (63,9%), um padrão que se repete em todas as regiões do Brasil.

“É fundamental investir em estratégias de controle do tabagismo e garantir que o paciente tenha acesso rápido ao tratamento, dentro do prazo dos 60 dias que é previsto em lei. Se nada for feito, a doença progride, o custo do tratamento aumenta, o paciente enfrenta mais dificuldades e as chances de óbito crescem”, disse o consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff.

Disparidades regionais

Os números mostram que a Região Sul apresenta a maior incidência de câncer de pulmão no país, tanto em homens quanto em mulheres. Com taxas de 24,14 casos novos a cada 100 mil homens e 15,54 casos novos a cada 100 mil mulheres, a região sulista supera significativamente a média nacional de 12,73 casos para homens e 9,26 para mulheres. Além disso, é na Região Sul que se observa o maior índice de mortalidade entre homens, em todas as faixas etárias analisadas no estudo.

Ao analisar os dados por faixa etária, fica evidente um padrão de aumento da taxa de mortalidade à medida que a população envelhece, tanto em homens quanto em mulheres. Especificamente na Região Sul, os números são particularmente preocupantes, com índices elevados de óbitos entre pessoas com 40 anos ou mais. Essa tendência pode ser resultado da falta de acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado, mas também possíveis fatores socioeconômicos e ambientais que influenciam o desenvolvimento e a progressão da doença.

O estudo também revelou que, independentemente da região, a maioria dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão tinha apenas nível fundamental de escolaridade. Esse dado sugere uma possível correlação entre o nível educacional e o acesso aos cuidados de saúde preventivos e ao conhecimento sobre os riscos associados ao tabagismo. A faixa etária entre 40 e 59 anos tem a maior concentração de casos de câncer de pulmão, tanto em homens quanto em mulheres.

Indústria tabageira

Embora as taxas de incidência e mortalidade sejam geralmente mais baixas entre as mulheres, a tendência de aumento da mortalidade em idades mais avançadas é preocupante. Segundo Maltoni, a epidemia do tabagismo atinge principalmente indivíduos de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Essa população vulnerável é mais suscetível aos danos causados pelo tabaco, o que contribui para a crescente taxa de mortalidade por câncer de pulmão entre os segmentos mais desfavorecidos da sociedade.

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